#44 limite

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[editorial] O limite do limite
Francisco Paixão

O propósito é a Cidade
Inês Saraiva

Miscommunications
Ivan Brito

Quimera
Paula Chaves

[entrevista] Pedro Brígida
Carolina Ramos, Cláudia Ribeiro e Inês Saraiva

[artigo gráfico] de(s)limitar
Beatriz Marques

[enviados nu] RMA | Muhipiti
António Moreno | Carlos Fraga

[à conversa com] António Bettencourt e Carlos Antunes
Diogo Simões, Lara Reis e Paula Chaves

Arquitectura, por vir
Diogo Simões

Olhar lá para fora
Francisco Paixão

Atrevimento
Letícia Callou

[entrevista] João Baía
Lara Reis e Paula Chaves

[contaminações] SENZEB
João Paulo Cardielos, Eduardo Mota e João Briosa

[a nu] Stairway to nowhere

 

[editorial] O limite do limite

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Limite, estrema, fronteira, raia, aquilo que define ou delimita um espaço.

Entendemos, muitas vezes, o limite como um fim, uma meta, uma fronteira entre dois espaços, uma linha que separa, como o momento imediatamente antes de algo transbordar, algo completo ou acabado, um término. Contudo, esse momento pode ser ultrapassado, transpondo-se esse ponto, passando, então, o limite a ser um mediador entre estados diferentes e não apenas um fim em si mesmo.

Mas o que está para além do limite? E qual limite? Do limite físico, existente, marcável e definível? Ou o limite do bom senso, da legalidade, do que é normal fazer? Qual o limite entre o real e o irreal? Entre o natural e o artificial? Entre o possível e o utópico? Será o espaço infinito? E o Espaço? Tem o Universo limites? Sendo este, aparentemente, uma coisa física, é definível e limitado? O Universo expande-se constantemente, mas qual o limite dessa expansão? Terá fim? E qual o limite oposto, o da concentração? Quanto poderá ser o espaço condensado e comprimido?

Partimos da arquitectura, onde os limites se revelam primariamente no espaço, sendo aquilo que dá forma à própria arquitectura. Normalmente podem ser condicionantes para o projeto, mas são do mesmo modo a única base para o fazer; sem eles a arquitectura caíria num vazio experimental onde essa total liberdade acabaria por impedir o processo de criação. Todo o projeto surge de algo – um programa, um local ou um conceito -, e esse algo, por mais variável que possa ser, terá sempre o seu caráter de limite.

No entanto, fugimos também do próprio limite da arquitectura tentando encontrar-nos a nós próprios num tema que é, por contradição à sua natureza, muito amplo e quase ilimitado. Ao mar como uma fronteira física que impede o continuar opomos um estado de reflexão que pela imensidão do seu confronto nos provoca o sonho e desse sonho julgamos o real. Questionamos aquilo que existe mesmo e aquilo que apenas pensamos existir. Real ou irreal, sonho ou metafísica, um diálogo constante que nos provoca a sensação de medo. Regressamos a casa quando nos deparamos com este abismo, mas mesmo aqui há um confronto: discutem-se os tais limites do campo disciplinar da arquitectura. Entendê-los, ou pelo menos discuti-los, permite-nos perceber, não só o modo como esta lida com outras áreas, mas sobretudo as expectativas depositadas sobre esta.

Entender os limites é, no fundo, entender o que é limitado; é entender o que se está a delimitar. Procurando os limites de algo, procura-se esse algo em si. O que define e limita uma coisa acaba por ser a sua própria definição, o modo de a designar.

Viveremos a vida nu limite?

autor:
Francisco Paixão (aluno de dissertação)