#46 cor

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[editorial] (Pre)Conceito
António Carvalho, Flávia Bellesia e Inês Saraiva

O Olho e o Espaço
Inês Saraiva

A influência da cor na perceção espacial
Daniela Aires

[entrevista] Alberto Campo Baeza
Cláudia Ribeiro e Carolina Ramos

Mies missing materiality colour
Carolina Ramos

Resiliência
António Carvalho

[artigo gráfico] E se os monumentos tivessem outra cor?
Bárbara Silva

In a sentimental mood for Marrakech
Sara Barros

Infinita transparência
Cláudia Ribeiro

[à conversa com] Fala Atelier
António Carvalho e Flávia Bellesia

Aprender a cores, Ensinar a cores
Luís Miguel Correia

Do espiritual na arquitectura
Joana Ferreira

Livraria NU | NUDA
António Feitais e Hugo Silva

Casa sem cor, Casa sem vida
Hugo Silva

[contaminações] Teoria, Crítica e História da Arquitectura
Matteo Santi Cremasco

Para (não) variar

 

[editorial] (Pre)Conceito

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A cor, indissociável da matéria e necessariamente articulada à luz, está presente na perceção de todos os objetos que nos rodeiam, naturais e artificiais. Visualmente identitária, esta tem surgido de diversos modos na História e na Teoria como elemento arquitectónico. Nestes campos, a cor é infinitamente relacionável com as questões às quais o objeto de arquitectura se vincula, quer sejam de cariz construtivo, espacial, ornamental, criativo ou cultural. Portanto, a cor está sempre presente no processo arquitectónico, desde a sua conceção, apreensão, até às suas vivências. Desta forma, assumindo que a cor pertence às matérias das quais o arquitecto trata – a do espaço e a tudo o que a ele é intrínseco –, questionar-se em relação a este elemento deve ser também da sua responsabilidade.

Contudo, quase a completar a segunda década do século XXI, escuta-se ainda um eco no subconsciente de algumas arquitecturas que sussurra: cor é crime. Será que num mundo que se diz global e em constante evolução existem marés vivas de apatia à cor, que a inibem de ser do espaço como qualquer outro elemento arquitectónico? Ao fim ao cabo, intencionalmente ou não, a cor fará parte do espaço, da matéria e da luz, ou seja, do espaço arquitectónico. 

Portanto, o que será dos arquitectos que tentam fugir à cor no seu trabalho? Lutarão contra a natureza das coisas? Até a água reflete na sua superfície a cor do céu e escurece nos confins do solo marinho. O que será de nós, futuros arquitectos, se não pensarmos e questionarmos sobre a cor no mundo, na vida e no projeto?

O que significa, então, a cor (na arquitectura)?

Através da indagação parte-se à procura de respostas que denunciam uma ausência de certezas, mas que motivam a discussão; assim, num exercício coletivo, surgem respostas e surgem ainda mais perguntas, por vezes mais incisivas, outras vezes menos, corretas numa perspetiva, dúbias noutras. É então que surge a oportunidade para refletir sobre o papel da cor na disciplina da arquitectura sem dogmas, e ainda para desfazer ou sustentar mitos. Discute-se sobre a cor e testam-se os seus limites, na tentação de abrir a caixa geométrica da arquitectura às ilimitadas manifestações da cor; questiona-se o seu valor independente do material e questiona-se a sua efemeridade enquanto valor; mudam-se os paradigmas culturais e a cor aparece onde não a esperamos; aparece como uma nota musical na composição do espaço e ouve-se na sinfonia que ressoa no vazio.

Nesta viagem surgiram dois caminhos: a cor como preconceito ou como conceito. Manifestados de maneiras diferentes, nenhum deles é imparcial e conclusivo, nem a esta ambiguidade nem às questões colocadas. Por isso, cada contributo é um processo em aberto, é uma ponta solta que teima em fixar-se e é uma perspetiva com reverso. É um romance que quer provocar, é uma imagem que quer enganar e é uma discussão que provavelmente não vai acabar.

Seguem-se mensagens de arquitectos, futuros e profissionais que, de forma ingénua ou madura, emotiva ou científica, querem ser ouvidas e refletidas para inspirar mudança – porque afinal, que graça tem a vida sem cor?

autores:
António Carvalho, Flávia Bellesia e Inês Saraiva (alunos de 4º ano e aluna de dissertação)

 

COR 47

#46 + 1 call for papers | edição revista nu


Memory and Imagination in Architecture
Jora Kasapi

É de se lhe tirar o chapéu!
Ana Luísa Rodrigues

A Poem for Humanist Cities
Igor Vukičević

A Palavra Proibida
Jéssica Casalinho, Rita Rosmaninho e Sofia Campos

O que dizem os desenhos 
Teresa Pais

Tentaremos
Dulce Branco

Deslizando entre os tempos e os espaços
Júlia Pacheco, Leticia Callou, Marina Gasparini e Rodrigo Tavares

EU Iconography. EU Rhetoric
João Miranda

30 anos, 15 mulheres
Susana Lobo

Um apelo ao branco
Raquel Lagoa

 

#45 entretanto

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[editorial] Onde está a escola?
Cláudia Ribeiro, Francisco Paixão e Inês Saraiva

A forma segue a formação
Lara Reis

Invadir
Inês Saraiva

[entrevista] Alexandre Alves Costa
Cláudia Ribeiro, Ivan Brito e Paula Chaves

“Basta! Pum! Basta!”
Cláudia Ribeiro

Escola: entre o dinamizador pedagógico e…a nossa casa
Carolina Coelho

[artigo gráfico] “Arquitectura em ruína 2.0”

[enviados nu] Au Revoir, Nevoeiro
Carolina Ramos

Seja Realista, exija melhores condições
Paula Chaves

Ecos
Nuno Santos

[à conversa com] Bruno Gil
Cláudia Ribeiro e Lara Reis

Um Início
Flávia Bellesia

Cultura, Informação e Arquitectura
Francesco Benatto

Requalificação da Sala dos Alunos
Bárbara Batista e Guilherme Falcão

[contaminações] Preguiça
António Carvalho

Às vezes mais vale estar calado
Francisco Paixão e Hugo Silva

[a nu] Isto não é uma instalação 
Cláudia Ribeiro

 

[editorial] Onde está a escola?

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Multifacetada e multidisciplinar, a arquitectura revela complexidade na transmissão dos conhecimentos a si inerentes. A sua vinculação a determinados e variados contextos obriga a uma adaptação e atualização permanentes – seja da disciplina, do seu conhecimento e da sua prática, seja da reflexão e
do ensino. 

Numa escola, esta mutação permanente parte da vontade de lhe pertencer, de partilhar e de comunicar. No espaço onde habitam estas premissas, surgirá o espaço para falhar e, consequentemente, o espaço para aprender.
Sem diálogo e sem intervenção, a escola é nada mais do que o seu espaço físico: paredes que não ecoam nada são para além de estrutura. Numa escola – espaço tão intensamente dos alunos – é preciso que estes não sejam meras entidades passageiras conduzidas cegamente por premissas nunca questionadas:

Onde estão os agentes interessados e interessantes, motivados e motivadores?
Onde estão as buscas descomplexadas pelo conhecimento e a capacidade de ir além do expectável?
Onde está a rebeldia de uma geração vasta de pensadores inocentes e crentes na utopia de um mundo melhor?
Onde está o tempo para questionar Onde está a Escola?

Era sobre isto que queríamos falar… Falar sobre tudo: questionar tanto quanto reivindicar; tanto falar sobre o espaço e sobre as pessoas, como sobre os malditos bancos ou o romance; discutir a própria revista e perceber a relação entre teoria e prática; questionar a Escola de Coimbra, enquanto se celebra o ensino. Queríamos falar sobre tanto que ficámos entre tudo isto. Mas nunca esquecemos o nosso ponto de partida, a nossa casa, a nossa musa: o claustro. Este espaço que nos alberga e que tanto nos protege e abriga como nos faz voar; um lugar de trocas e vivências, um espaço para pertencer, deixar marcas e recolher memórias – a verdadeira escola!

“Mas antes, oh musa, é bom que se saiba de antemão que há assuntos de que não falaremos.”  Não falaremos da arquitectura como arte nem da sua aproximação à engenharia. Não falaremos do egocentrismo de alguns egos. Não falaremos de outras escolas de arquitectura como comparação entre diferentes realidades. Não falaremos do fim da arquitectura, porque esta será eterna enquanto o Homem dure… Não falaremos da juventude na batota, nem dos cotas na tasca. Não falaremos daqueles que não quiseram ser ouvidos nem dos que tardaram em calar.

Falaremos de Porto, Lisboa, Coimbra e o mundo. Falaremos de escola com palavras roubadas ao Costa. Falaremos de interação social e incitaremos o ativismo pedagógico. Falaremos de turismo e cidade na universidade. Falaremos de outros mundos e de outras vontades. Falaremos do que precede a forma e de um manifesto futurista de revolta e indignação. Voltam as janelas, regressam os grandes planos. No fundo, a vontade é a mesma e dessa nunca nos conseguiremos libertar. Falaremos da vida e do que está para além dela. Falaremos de preguiça e dos caminhos até casa. Falaremos do início e de como tudo poderia ter começado.“E não falaremos de mais nada a não ser o [que nos surgiu como] essencial! E o essencial é ter (…) o vento no pensamento!”

autores:
Cláudia Ribeiro, Francisco Paixão e Inês Saraiva (alunos de dissertação)